Com pouco mais de dez anos desde o seu lançamento para o público, a tecnologia blockchain e as criptomoedas vêm ganhando cada vez mais espaço em diferentes setores da economia. E esse cenário não é diferente para os bancos. Tanto no Brasil quanto no resto do mundo, essas instituições financeiras vêm adotando cada vez mais esses ativos em seus projetos, reconhecendo as vantagens que eles trazem.
Para Eduardo Carvalho, CEO e cofundador da Dynasty Global AG, "os criptoativos já superaram a fase inicial de desconfiança e se tornaram uma realidade para uma boa parte de investidores no país". E, conforme a adoção entre investidores crescem, as empresas - incluindo os bancos - passaram a olhar cada vez mais para esses ativos e tecnologias.
Pedro Lapenta, head de research da Hashdex, explica que a tecnologia blockchain é a base para diversos criptoativos, incluindo o bitcoin, e também tem "potencial de trazer várias vantagens aos bancos e instituições financeiras". Entre essas vantagens, ele cita uma "eficiência operacional através de transações mais rápidas e custos mais reduzidos".
Além disso, Lapenta também cita "mais segurança através de integração de dados, transparência e criptografia aplicada, conformidade com regulação através de rastreabilidade e melhor conformidade regulatória, novos modelos de negócios como financiamento de ativos tokenizados, utilização de contratos inteligentes para automatizar tradicionais operações financeiras, finanças descentralizadas e pagamentos transfronteiriços".
Mas a adoção das criptomoedas por bancos ainda está aquém do potencial. Eduardo Carvalho acredita que isso ocorre "em decorrência da estrutura complexa de operação e governança presente nas instituições. A burocracia existente, e obviamente necessária, exige que a adaptação a inovações demande tempo e investimento, sendo imprescindível um certo nível de segurança para iniciar o investimento em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, assim como a adequação às normas nacionais e internacionais".
Entretanto, ele acredita que "com o nível de maturidade dos criptoativos no momento atual, a aproximação entre as partes nunca esteve tão iminente. E isso seria extremamente benéfico para todos os envolvidos, caso o cenário se transforme em realidade num futuro próximo. Até porque já se tornou evidente que o potencial trazido por essa tecnologia tem tudo para inovar e impulsionar ainda mais as três principais funções e serviços de um banco: a custódia, a gestão de ativos e as operações financeiras".
Para Lapenta, a área com mais potencial de adoção de criptoativos em banco é a tokenização de ativos. "Temos visto grandes bancos globais trabalhando nessa frente, tentando entender os benefícios e começando a interagir com essa novidade. Aqui no Brasil não é diferente", ressalta. Nesse sentido, ele avalia que o receio dos bancos "está diminuindo consideravelmente".
"Conforme o tempo vai passando, e o mercado começa a se debruçar sobre a tecnologia e começa a entender os reais benefícios que ela traz, esse receio se dissipa. E temos visto isso acontecer mundo afora. Aqui no Brasil o processo está mais avançado, até por conta de incentivos do Banco Central através do projeto do Drex", afirma o executivo.
Carvalho diz que "a aproximação entre as instituições financeiras e os produtos relacionados a criptomoedas significa um movimento vantajoso para ambos. Pelo lado do banco, passar a se apropriar desse ativo simboliza oferecer novos serviços e mais segurança aos clientes, o que resulta no aumento da afinidade e fidelidade do relacionamento".
"Já para as criptos, por mais que em um primeiro momento essa relação possa ser vista como um paradoxo, uma vez que o seu propósito passa justamente por propiciar que o usuário não dependa de terceiros para efetuar transações, agora elas passariam a ter a custódia de marcas fortes e reconhecidas pelas pessoas. Assim, a participação de um banco acaba por agregar uma camada protetiva importante, atingindo principalmente a parcela dos usuários que não desejam realizar a gestão de suas chaves privadas por conta própria", afirma.
Ele destaca que a integração entre bancos e criptomoedas "não deve demorar para acontecer" no Brasil, mas demanda que os bancos entendam qual criptoativo tem mais potencial e capacidade de ser incorporado e ofertado. Nesse caso, o fator primordial passa pela jurisdição na qual esse ativo foi emitido. No entanto, aspectos como procedimentos de identificação dos usuários e regras de governança em compliance também serão avaliados", observa.
Já Lapenta lembra que diversos grandes bancos já possuem projetos iniciais envolvendo ativos digitais e blockchain. É o caso do JPMorgan, que criou uma divisão específica para a área, a Onyx, e possui uma moeda digital própria, estudando aplicações na área de envio de remessas e conversões de moedas fiduciárias.
"Vários outros bancos e instituições financeiras estão trabalhando com a tecnologia como o HSBC, Standard Chartered, Goldman Sachs, Paypal, entre outros. No Brasil, temos visto os principais bancos brasileiros, Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e BTG trabalhando com a tecnologia, bem como fintechs como
o Nubank e até o Mercado Livre", comenta.
O BTG Pactual, por exemplo, se tornou o primeiro banco do Brasil a emitir um token de ativo mobiliário e o primeiro a lançar uma stablecoin própria pareada ao dólar, o BTG Dol. Além disso, o banco lançou uma corretora de criptomoedas própria, a Mynt.
"A grande verdade é que a tecnologia blockchain já foi testada e comprovada nos últimos anos. Agora chegou a hora de dar os próximos passos. Isso significa apresentar o seu potencial para um público cada vez maior e iniciar o processo de escala. A união entre bancos tradicionais e criptomoedas será fundamental para popularizar o mercado no Brasil", projeta Carvalho.