Deixando um 2022 agitado para trás, o mundo das criptomoedas deve ter um 2023 ainda desafiador, mesmo com um quadro mais positivo que o deste ano. Após passar por grandes quedas e ainda não ter terminado um período de mercado de baixa, o setor deve manter no próximo ano um processo de expansão, com mais aplicações e casos de uso.
Há, ainda, uma forte tendência de uma maior regulamentação em diversos países, de modo a evitar casos como a exchange falida FTX, que deixou milhares de investidores no prejuízo. Indo além do mundo das criptomoedas, será importante ficar de olho, também, nas aplicações de tokenização de ativos, além dos já conhecidos tokens não-fungíveis (NFTs, na sigla em inglês).
Especialistas apontam o que esperar para o segmento em diversas áreas, indo dos investimentos ao desenvolvimento de novas tecnologias apoiadas em blockchains. Confira!
Alexandre Ludolf, diretor de investimentos da QR Asset Management, avalia que 2022 trouxe "o colapso de diversas entidades centralizadas, desde plataformas de empréstimos como Celsius e Voyager, hedge funds como Three Arrows Capital e Alameda Research até a implosão da FTX, uma das maiores exchanges do mundo".
Ele lembra que essas empresas operavam sem regulação ou em locais de jurisdição fraca, mas que isso deve continuar a mudar em 2023. Ludolf ressalta que já existem locais com arcabouços regulatórios "sólidos", caso do estado de Nova York, e o número de locais com regras sobre criptomoedas e investimentos nesses ativos deve aumentar.
"Acreditamos que grande parte do próprio mercado irá demandar que seus service providers operem sob regulações mais robustas. Esse ambiente pode ser favorável ao Brasil, onde o Banco Central em especial se mostra bastante ativo. Um piloto do Real Digital está em curso, e o próprio roadmap do Pix envolve programabilidade. O BC também sinaliza entender a tese de tokenização, e do potencial destravado ao integrar nova tecnologia ao sistema tradicional", observa.
No lado das aplicações da tecnologia que permitiu a criação e funcionamento das criptomoedas, o sócio-fundador da Fuse Capital João Zecchin acredita que o sistema saiu fortalecido, já que as falências em 2022 não estiveram relacionadas a falhas na lógica cripto ou das finanças descentralizadas (DeFi, na sigla em inglês).
Por isso, ele aposta que "ferramentas criadas e testadas na crise de 2022 começarão a ser aplicadas no mundo real, oferecendo retornos reais". Uma das áreas que mais deve contar com essas novidades é o mercado de stablecoins, moedas digitais pareadas com outro ativo, em geral o dólar.
"Mesmo com a queda do TerraLuna, a USDC cresceu bastante porque foi um modelo que funcionou para stablecoins desregulamentadas, e o USDT ficou estável", explica. Ele cita também tecnologias que devem se expandir na área de negociação, seguindo o exemplo da corretora descentralizada de criptomoedas Uniswap, além de iniciativas que deverão seguir o exemplo do protocolo Waves na área de empréstimos, em busca de criar mercados de liquidez.
Caio Barbosa, CEO da Lumx Studios, avalia que os NFTs deverão, em 2023, serem usados cada vez com uma utilidade atrelada, não apenas algo que é comprado e armazenado. Ele aposta em iniciativas como comprar tokens que dão direito a descontos em produtos ou então a uma peça física, permitindo que esses criptoativos sejam verdadeiramente integrados às empresas que os oferecem.
"A gente já vê ai grandes cases de marcas que estão começando a fazer um negócio chamado token gate, que basicamente significa um portão um acesso a experiências, benefícios e descontos integrados, um aplicativo, um e-commerce e tudo mais. Acho que cada vez mais vai ter algo mais integrado", acredita Barbosa.
Outra tendência que ele destaca é a chamada "Web3 social", uma "forma de você utilizar tokens pra criar, estabelecer e impulsionar relacionamentos entre pessoas", criando comunidades apoiadas em elementos como gameficação e NFTs para aumentar o engajamento do público, como fãs e consumidores. "É algo interessante, e estou vendo cada vez mais esses movimentos", diz.
Na área de blockchain, a developer advocate da Chainlink Labs Solange Gueiros afirma que 2023 deve ser um ano de consolidação dessa tecnologia como uma "ferramenta para transparência e imutabilidade de dados". Nesse sentido, ela acredita que o mercado verá cada vez mais aplicações voltadas para a área de contratos inteligentes, com funcionamento "de maneira autônoma e descentralizada".
Ela diz ainda que, como evolução da própria internet, a Web3 deve se voltar cada vez mais para o incentivo à descentralização de redes sociais e sistemas, trabalhando também com a ideia de "soberania da identidade, de modo que o usuário tenha mais controle sobre o compartilhamento de seus dados por provedores diversos".
Já a corretora brasileira de criptomoedas Mercado Bitcoin considera que 2023 ainda será de lateralização nos preços das criptomoedas, já que o chamado "inverno cripto" não acabou. Mesmo assim, a empresa aposta que, no próximo ano, "as narrativas que impulsionarão o próximo bull market [mercado de alta] serão construídas".
Como tendências para o próximo ano, a corretora de criptomoedas aposta em um fortalecimento de teses de autocustódia e do próprio DeFi, além de uma expansão da escalabilidade dentro do ecossistema cripto e um esforço da indústria para exigir cada vez menos conhecimento do seu funcionamento para potenciais investidores, facilitando a entrada nesse ecossistema.
"É importante encará-lo como um ano de construção de portfólio, identificando bons projetos e se familiarizando com novos conceitos que podem se tornar 'the next big thing' [a próxima coisa grande]", recomenda a equipe de research da exchange.
Fonte: exame
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