Investidores e entusiastas ligados aos criptoativos ficaram animados na semana passada quando houve o anúncio de que o bilionário Elon Musk concluiu a aquisição do Twitter. Para esse grupo, as mudanças que o empresário promete colocar em prática devem beneficiar o segmento, aumentando sua adesão e casos de uso.
Antes da compra ser concluída, Musk já havia comentado em entrevistas, publicações nas rede sociais e outros canais alguns dos seus planos para a rede social, uma das maiores do mundo. Dentre as possibilidades, estavam medidas como a criação de carteiras digitais ligadas ao site e o uso da criptomoeda dogecoin em transações.
A animação desse segmento está ligada também à participação que o setor de criptoativos teve nesse processo. A maior corretora de criptomoedas do mundo, a Binance, contribuiu com US$ 500 milhões dos R$ 44 bilhões usados na aquisição.
O CEO da empresa, Chanpeng Zhao, reconheceu que a quantia era mais simbólica, mas que ela representa a disposição da exchange de ajudar Musk a integrar o mundo dos criptoativos ao Twitter. A FTX, segunda maior corretora do mundo, também demonstrou interesse na aquisição, mas não concretizou uma participação.
Nesse cenário, especialistas avaliaram à EXAME que as mudanças que Musk sinalizou para o Twitter até o momento tendem a ser positivas para os criptoativos, por mais que ainda esbarrem em dificuldades, como o próprio convencimento dos atuais usuários a aceitar as alterações na rede.
Os planos de Musk não representam exatamente uma guinada na estratégia do Twitter. Gustavo Broda, diretor de tecnologia da plataforma StartSe, lembra que a rede “já vinha com estratégias para olhar para o mercado de cripto, não só nas moedas mas também mais à fundo, pensando em Web3, descentralização”.
Por isso, ele espera que o bilionário aprofunde esse movimento, que contou com etapas importantes como a aceitação de bitcoin e ether para pagar “gorjetas” a criadores de conteúdo e a integração com carteiras digitais para usar tokens não-fungíveis (NFTs, na sigla em inglês) como fotos de perfil.
“Acho que o caminho é transformar o Twitter em uma plataforma mais descentralizada, e deve provavelmente começar a recompensar criadores de conteúdo com criptoativos, tanto criptomoedas quanto NFTs, até para gerar relevância pra rede”, ressalta Broda.
Para o diretor, as medidas seriam uma forma de lidar com os dois pontos mais criticados por Elon Musk: o excesso de “bots”, contas não controladas por humanos, e uma baixa qualidade do conteúdo na rede atualmente.
Outra mudança que ele espera, e já foi parcialmente implementada na mesma semana da conclusão da aquisição, é a transformação do Twitter em um ambiente de negociação de criptoativos, em especial NFTs, a partir da conexão com marketplaces.
Broda aposta em conexões do Twitter com sites de criação de imagens via inteligência artificial, permitindo a “criação de arte digital, transformação em NFT e então a sua negociação”.
Ele acredita que a posição de Musk contrária à integração do Twitter à tecnologia blockchain – compartilhada em mensagens tornadas públicas – é “um blefe”, já que o movimento será necessário “pensando na descentralização” da rede social. “Não tem como fugir da Web3”, defende.
A expectativa dele é que usuários mais ativos do Twitter entrem na onda das ideias de Musk e aproveitem a remuneração por criação de conteúdo. Já aqueles que usam a rede “para consumir notícias, se atualizar, sem criar conteúdo, ficam mais em um mundo especulativo, de entrar pra ver se ficar milionário, mas o objetivo da rede não vai ser esse”.
As iniciativas de Musk deverão ser diferentes das do Facebook, que chegou a tentar criar uma criptomoeda própria, a Libra, mas desistiu do processo, segundo Ricardo Dantas, CEO da exchange Foxbit.
“É um cenário diferente do Facebook porque o próprio Elon Musk já é um CEO muito mais arrojado, afeito a riscos, desafiador. Tem a questão do timing também. O Facebook fez esse movimento bem antes do último mercado de alta, então as criptos não estavam tão populares quanto estão hoje”, observa.
Dantas vê uma abertura muito maior no mercado a iniciativas envolvendo o setor, mas ao mesmo tempo aponta um espaço não explorado na integração entre redes sociais, meios de pagamentos e criptomoedas. Mesmo aceitando transações financeiras, o Facebook e o Whatsapp não usam ativos digitais.
“Eu acho que ele vai inserir opções de pagamento no Twitter, e usando criptomoedas. O Jack Dorsey [fundador do Twitter] também é adepto a criptomoedas, sempre foi um grande defensor do bitcoin, e acho que esse espaço, ser um superapp em criptomoedas, está bem em aberto”, afirma.
Para isso, ele acredita que as negociações e uso de NFTs na rede serão um “primeiro passo”. Citando a ideia ventilada por Musk de cobrar mensalidades para serviços premium na rede, incluindo o famoso selo de verificação de conta, ele defende que “a hora de fazer grandes mudanças é agora. É uma forma de rentabilidade para o Twitter, provavelmente vão começar a cobrar em cima de produtos ligados a isso. Existem muitas oportunidades”.
Fonte: Exame
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