Crise bancária nos EUA pode abrir espaço para criptomoedas e criar oportunidades

Por 19/03/2023
19/03/2023


As bolsas de valores ao redor do mundo fecharam em baixa nesta segunda-feira, 13, refletindo um pessimismo e cautela no mercado após a falência de uma série de bancos nos Estados Unidos, despertando temores de uma crise mais generalizada. Entretanto, um setor destoou e caminha para ter uma forte valorização nas últimas 24 horas: o de criptomoedas.

De acordo com dados da plataforma CoinGecko, o bitcoin acumula uma valorização de 13,8%, cotado a US$ 24.257, não apenas recuperando as perdas dos últimos dias mas também se aproximando do importante patamar de US$ 25 mil. Já o ether sobe 8%, a US$ 1.670, e outros ativos como Cardano, Polygon, Solana e Polkadot avançam mais de 5%.

Junior Borneli, fundador da StartSe, destaca que todo "evento extraordinário" do mercado traz consigo efeitos colaterais. E a quebra do Silicon Valley Bank, o maior a fechar as portas até o momento, gerou esses efeitos em todos os segmentos.

No caso do mundo cripto, ele destaca que "antigamente, quando um banco tradicional quebrava, as pessoas falavam para comprar ouro, propriedades. Isso porque, quando o mercado financeiro tradicional entra em descrença, uma desconfiança, algumas pessoas tentam colocar dinheiro fora dele. Agora, talvez elas tenham as criptomoedas pra isso, um lugar que em que algum momento podem se proteger e que já mostrou sua resiliência e flutuação ao longo do tempo".

Ele acredita que esse movimento de entrada de investidores no mercado cripto não deve ser muito agressivo ou se estender muito, já que as próprias grandes empresas do setor possuem laços e investimentos com os próprios bancos falidos e podem acabar sendo alvo de uma "crise de credibilidade". Mesmo assim, a perspectiva é que o setor fique em um patamar de preços superior ao anterior.

Ayron Ferreira, head de research da Titanium Asset, também acredita que as criptomoedas podem estar sendo vistas como um "lado seguro" em relação ao mercado tradicional, até devido à velocidade e intensidade das quebras de bancos tradicionais e a subsequente reação do Federal Reserve. Nesse cenário, ativos sem intermediários chamam a atenção.

Ele diz ainda que uma prova dessa busca por segurança está no fato do bitcoin estar subindo mais que outros criptoativos, as chamadas altcoins, indicando que "não é um movimento majoritariamente especulativo [em relação aos preços], porque aí outros tokens mais especulativos estariam subindo mais". Além disso, o bitcoin já comprovou que "tem todas as qualidades de ser um ativo de reserva de valor".

"Ele surgiu exatamente em uma época de crise, a de 2008, e agora está se cogitando uma crise semelhante, mesmo que menor. Essas quebras de bancos e interferências do Fed continuam acontecendo", explica Ferreira. Entretanto, ele pondera que ainda será preciso mais tempo e adesão para que a maior criptomoeda do mercado realmente se torne uma reserva de mercado, ou um "ouro digital". Por isso, ele aponta outra questão importante que está impulsionando o setor nos últimos dias.

Reação do Fed

"Considerando o ambiente mais macro, essa alta do bitcoin faz sentido justamente por isso. Agora, mais efetivamente, um dos motivos da alta é com certeza a possibilidade do Fed vir a ser menos agressivo na elevação de juros, o mercado já está apostando nisso", explica o head da Titanium Asset. Dados do CME Group apontam que os investidores abandonaram apostas em um aumento de 0,5 ponto percentual nos juros em março, e agora esperam ou uma alta de 0,25 p.p. ou até nenhuma mudança.

Ferreira destaca que o Fed agora precisará realizar um reequilíbrio de tom e ações, já que vai tentar, ao mesmo tempo, subir os juros para fazer a inflação no país cair e evitar um quadro de recessão muito intenso e sistêmico, como o de 2008. Nesse sentido, ele espera uma mudança de tom por parte da autarquia na próxima reunião, em 21 de março, mas não uma mudança total na sua postura de combate à inflação.

Caso os sinais dados pelo Fed sejam lidos pelo mercado como leves demais, a tendência é de que as criptomoedas, e o mercado acionário, engatem em uma nova tendência de alta, e mais intensa que a observada no início de 2023. Porém, ela poderia durar pouco, já que a inflação teria espaço para voltar a crescer com uma economia aquecida e o Fed precisaria agir novamente subindo juros.

"O mercado ainda está em busca de informações, porque tudo vai depender muito da mensagem que vai vir do Fed", projeta Ferreira. Já Borneli espera algum tipo de sinalização do banco central dos EUA em breve, até como uma forma de preparar o mercado para as medidas que precisará tomar. "É possível que haja uma redução na elevação da taxa ou uma estagnação. O paciente precisa do remédio, mas se der em doses muitas altas, pode acabar matando o paciente".

Ele observa que a falência do Silicon Valley Bank pode ser a primeira sinalização sobre os impactos de uma dose alta demais  contra a inflação, e que novas altas poderiam quebrar ainda mais instituições financeiras que, como o banco, "pegaram muito dinheiro nos últimos anos e aplicaram em vários investimentos que passaram a render menos agora do que eles precisam pagar".

"É uma balança bem de equilíbrio de até que ponto pode ir, corrigir distorções, mas segurar para evitar uma quebradeira nos bancos. Toda vez que existe uma sinalização de que os investimentos tradicionais vão desacelerar, as pessoas começam a buscar outras alternativas, e as criptomoedas ganharam muito força nos últimos anos porque conseguiram entregar rendimentos altos, então uma desaceleração de um lado pode levar a aceleração do outro, mas só esse primeiro movimento do Fed vai ser cedo para causar isso", acredita o especialista.

Para além dos preços dos ativos, Borneli espera uma "seleção natural" de empresas e projetos devido à liquidez menor gerada por essas quebras. O cenário deve afetar principalmente startups, incluindo as ligadas a projetos cripto, que precisaram se adaptar para encontrar novas formas de financiamento, mesmo que isso signifique aceitar avaliações menores de investidores ou propostas de compras e fusões.

"As startups tendem a ficar mais baratas. As que conseguirem se adaptar vão continuar avançando, as outras vão desaparecer. Com elas, desaparecem inovação, tecnologia, é um impacto em cadeia", pontua. Mesmo assim, ele acredita que os bancos tradicionais vão ocupar parte do espaço deixado pelo Silicion Valley Bank e apoiar projetos que, no passado, seriam rejeitados por eles, exatamente a causa para o surgimento do banco falido.

"Os bancos tradicionais vão ter que entender mais desse mundo se quiserem ser relevantes e capturar parte desse mercado. Com as criptomoedas vai ser a mesma coisa. O mercado financeiro vai ter que entender como operar com criptomoedas, é um mercado grande e volumoso demais para ser deixado de lado, então pode levar a réguas de controle, mecanismos para evitar novas FTX, mas vão absorver uma parte desse mercado", aposta.

Fonte: cointelegraph

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