"Hype é um termo usado para descrever a empolgação exagerada ou a publicidade excessiva em torno de algo, como um produto, evento, pessoa ou ideia. Pode ser usado para criar uma grande antecipação em torno de um novo produto ou lançamento, mas também pode levar à decepção se as expectativas não forem atendidas.”
Isso foi o que me disse o ChatGPT quando perguntei sobre o termo: ele acertou na mosca. Eu destacaria do trecho, em especial, a “decepção”, que de fato ocorre aos montes e no mercado cripto não seria diferente.
Tenho falado direto aqui na Exame sobre inteligência artificial e gostaria de terminar a minha trilogia abordando as criptomoedas que vêm surgindo com base na temática. Não deixe de ler os outros dois textos: como a tecnologia está impactando a negociação de ativos digitais e o resultado da união de IA e NFTs.
Inteligência Artificial
A inteligência artificial não é uma tecnologia nova, mas ela tomou o centro do palco para o público em geral mais recentemente com o fenômeno do ChatGPT.
Antes, o que víamos era mais coisa de ficção, filmes que mostravam IAs com inteligência própria criando rebeliões para subjugar os humanos. Eu e provavelmente a maioria de vocês que me leem, como leigos no assunto, ficamos receosos: será que a IA consegue realmente ser mais inteligente do que um humano?
Fui fazer essa pergunta ao ChatGPT, tecnologia que tenho usado muito no trabalho, principalmente para fazer pesquisas.
A resposta: “A Inteligência Artificial é capaz de realizar tarefas específicas de forma mais rápida e precisa do que um ser humano, mas isso não significa que ela seja ‘mais inteligente’ do que um ser humano em geral”.
“Ela é projetada para executar tarefas específicas com base em regras e algoritmos, que são definidos pelos programadores que criaram o sistema. Embora possa ser capaz de realizar essas tarefas melhor do que um ser humano em termos de velocidade e precisão, a IA não possui a mesma compreensão geral e capacidade de raciocínio que os humanos têm.”
Ou seja: os humanos são a base do processo. Somos nós que alimentamos a IA com dados, pois, ao menos em tese, ela não é capaz de criar algo do zero. O que ela pode fazer é usar os dados já fornecidos, existentes no mundo, e usar esses dados para aprimorar algo.
Vejam só a importância de tudo que postamos na internet, essa imensa base de dados pública bastante usada pelas IAs.
Isso me faz refletir também que devemos ter cautela com o que compartilhamos na esfera virtual. Nem tudo deve ser colocado na internet, porque eventualmente informações que depositamos nela podem ser usadas contra nós mesmos.
Aplicações de IA
Vem surgindo uma série de IAs que estariam “revolucionando o mundo”. Ok, mas como elas trabalham?
Nosso imaginário de inteligência artificial é habitado por personagens como o Jarvis desenvolvido pelo Tony Stark, o Homem de Ferro. Eles tocam ideia o tempo todo e a IA resolve tudo para o Stark. Pode ser que no futuro funcione assim? Pode. E parece que estamos caminhando para isso.
Com a ferramenta de processamento de linguagem natural (PLN), a IA pode compreender a linguagem humana e permitir a criação de assistentes virtuais, como a Alexa da Amazon e a Siri da Apple, interfaces inteligentes orientadas por voz.
Existe também o que é chamado de visão computacional, por meio da qual a IA consegue capturar, processar, analisar e entender imagens e vídeos digitais. Além disso, o machine learning (aprendizado de máquina) permite aprender continuamente para aprimorar o sistema que está sendo criado, como acontece com o ChatGPT.
No meu papo com ele, também perguntei quais seriam as IAs mais inovadoras atualmente. Foram citadas plataformas como o GPT-3 e o DALL-E, da própria OpenAI; o AlphaGo, um programa criado pela DeepMind que pode jogar o jogo de tabuleiro Go com habilidade de nível humano para vencer jogadores profissionais; e o Tesla Autopilot, um sistema de piloto automático da Tesla que usa câmeras, radares e sensores para detectar e evitar obstáculos, e ainda direcionar o veículo. Também usa redes neurais (um tipo de machine learning) para identificar objetos e interpretar informações.
Criptomoedas de IA: hype ou opção de investimento?
O hype está por todo lugar no mercado cripto e, neste momento, o FOMO se virou para as moedas digitais que se dizem vinculadas à inteligência artificial.
O problema é a facilidade de se criar criptos, e com qualquer tipo de motivação. Geralmente, as moedas digitais criadas do dia para a noite não surgem das melhores intenções dos desenvolvedores. É fácil se aproveitar da euforia e tirar uma casquinha para embolsar grana. Muitos investidores entram nesse mercado para especular e ganhar dinheiro rápido e sem esforço, sem conhecer seus mecanismos e particularidades.
Um exemplo que ainda está fresco na minha memória é o da criptomoeda lançada em 2021 a partir do sucesso da série da Netflix “Squid Game”, batizada de “Round 6” no Brasil. O golpe deu um prejuízo de mais de US$ 12 milhões a quem comprou a moeda. Só para se ter ideia do que faz a euforia, a moeda chegou a custar US$ 2.861 em menos de uma semana de existência.
As principais criptomoedas de IA são SingularityNet (AGIX), Fetch AI (FET), Artificial Liquid Intelligence (ALI) e Ocean Protocol (OCEAN). Esta semana, juntas, elas somam um valor de mercado de cerca de US$ 5 bilhões. Isso é maior do que o valor de mercado da Decentraland (MANA), por exemplo, o metaverso mais famoso e estabelecido do mercado cripto.
A seguir, veja o que propõem as principais criptomoedas de IA. Quem quiser mais detalhes pode usar o CoinMarketCap para pesquisar.
• SingularityNET (AGIX): permite que qualquer pessoa crie, compartilhe e monetize serviços de IA de maneira simples. Por meio de seu marketplace, os usuários podem navegar, testar e comprar serviços de IA usando o token de utilidade nativo da plataforma, AGIX. É também um ambiente onde os desenvolvedores de IA podem publicar e vender suas ferramentas e rastrear seu desempenho. O time por trás da SingularityNET é o mesmo que desenvolveu a IA Sophia, um robô humanoide que virou celebridade.
• Fetch AI (FET): a Fetch.AI se autodenomina um laboratório de inteligência artificial construindo uma rede de aprendizado de máquina descentralizada, aberta e sem permissões com uma economia criptográfica. Segundo o protocolo, qualquer pessoa pode se conectar e acessar conjuntos de dados usando a IA autônoma para executar tarefas que aproveitam sua rede global de dados. A cripto FET serve para comprar esses serviços. Casos de uso: otimização de serviços de negociação DeFi; redes de transporte (estacionamento, micromobilidade); redes inteligentes de energia.
• Artificial Liquid Intelligence (ALI): a criptomoeda alimenta o AI Protocol, que aposta nos iNFTs ou NFTs inteligentes, a partir de criações de arte generativa. Esses NFTs inteligentes podem se movimentar, adquirir traços especiais que mudam em determinadas condições e até reagir. Com a ajuda do protocolo, criadores e desenvolvedores também podem aproveitar novos modelos de monetização, aquisição de usuários, verificação, crowdsourcing e governança, além de permitir a interoperabilidade dos ativos de IA em DApps construídos sobre ele.
• Ocean Protocol (OCEAN): propõe que pessoas e empresas monetizem seus dados enquanto preservam a privacidade e o controle. No Ocean Market, os consumidores podem acessar conjuntos de dados, em especial de IA, que “antes estavam indisponíveis ou eram mais difíceis de encontrar”, diz o protocolo. Os dados podem ser negociados com a cripto OCEAN.
Vale a pena investir?
As criptos citadas acima são as principais moedas digitais que se relacionam com IA. Mas há inúmeras outras pegando carona no boom do tema. Portanto, esse já é o primeiro sinal de alerta.
Algumas perguntas devem ser feitas ao analisar uma cripto de IA.
Essas empresas cripto de IA realmente precisavam criar moedas digitais para suportar o projeto ou só estão aproveitando o hype para monetizar?
Existe de fato uma infraestrutura tecnológica por trás do protocolo para o fomento de IA ou é mais discurso para ganhar dinheiro fácil? Essa tecnologia é sustentável no longo prazo, ou seja, capaz de ter - ou manter - relevância no mercado no futuro?
O investidor deve ficar com o pé atrás e entender que essas criptos não se provaram, inclusive não houve nem tempo para isso. Portanto, montar posições delas é extremamente arriscado.
Caso você esteja querendo arriscar de qualquer forma, quem sabe pegar um potencial de valorização consciente dos perigos, aporte apenas um pequeno pedaço do seu portfólio.
Tudo neste momento que envolve criptomoedas de IA não passa de aposta, até porque o mercado precisa testar a tese. Será que vão ou não vão vingar? As criptos vão entregar o que estão prometendo? Essa análise deve ser feita.
Fonte: exame