Com criptoativos e blockchain, pessoas físicas já podem investir e lucrar no mercado esportivo

Por 20/10/2022
20/10/2022


O trilionário mercado de esportes ainda não é o mais próximo dos investidores pessoa física, mas ferramentas como os criptoativos podem ajudar nessa aproximação. Os chamados fan tokens e os tokens não-fungíveis (NFTs, na sigla em inglês) esportivos têm potencial de ser uma porta de entrada para dois mercados: o esportivo e o cripto.

A avaliação, feita por especialistas em criptoativos e blockchain à EXAME, está ligada a uma forte expansão desse tipo de investimento nos últimos meses. Do Brasil ao exterior, clubes como Corinthians, São Paulo, Flamengo, Manchester City, Paris Saint German e Barcelona já aderiram à tendência.

Para Leandro França de Mello, os criptoativos esportivos têm duas grandes atratividades: oferecem exposição a um mercado tradicional descolado do setor financeiro tradicional e permitem que torcedores tenham um contato mais direto e diferenciado com os clubes e atletas que apoiam.

“Há uma dificuldade do mercado financeiro entrar no esportivo, até pela falta de instrumentos para isso antes do lançamento dos tokens esportivos. Os tokens permitem que pessoas à margem do mercado invistam no time sem se preocupar com questões regulatórias”.

Mello é fundador do AlphaBetting, um fundo de investimentos voltado exclusivamente para esse tipo de ativo e que deve ser aberto em janeiro de 2023. Ele avalia que o fundo atende a uma demanda do mercado, e permite investir nos dois principais tipos de criptoativos esportivos: NFTs e fan tokens.

Usando criptoativos para investir no esporte

Os fan tokens e os NFTs possuem funcionamentos e aplicações diferentes, afirma João Zecchin, sócio-fundador da gestora Fuse Capital. Os primeiros costumam ser usados para financiar projetos de clubes, como compra de jogadores, enquanto os segundos são usados como uma forma de engajar torcedores.

“Os fan tokens não divergem muito do modelo tradicional de obtenção de capital, como emitir títulos de dívidas ou ações. Já os NFTs estão mais voltados à experiência que os compradores têm, não a um retorno financeiro”, explica.

Entre os usos dos fan tokens, estão o direito a voto nas decisões do clube e uma remuneração atrelada ao desempenho de um jogador. Já os NFTs representam itens colecionáveis, em geral de edição limitada.

Para Zecchin, a grande semelhança dos dois tipos de ativos, além de estarem baseados na tecnologia blockchain, é que ambos “tiram intermediários, se relacionam diretamente com o torcedor e tem um financiamento sem banco ou entidade financeira no meio do caminho”.

Ele observa que o fan tokens têm tido uma penetração maior no mercado esportivo que os NFTs, e o tipo de uso mais comum é como forma de acesso a conteúdos exclusivos de um clube no ambiente digital. Uma tendência, pontua, é que essas funcionalidades sejam transpostas para o ambiente físico no futuro, como a possibilidade de uso para adquirir ingressos.

“Toda a infraestrutura ainda está muito na esfera virtual, então criar conteúdo digital é mais fácil do que integrar toda a cadeia de pagamentos, emissões de bilhetes, que moram em um mundo diferente. É natural que comece no mundo digital mas deve se expandir para outras esferas físicas”, opina.

Já no caso dos NFTs, o principal desafio apontado por Zecchin é a distribuição, com cada um demandando um dono.

”O NFT é mais um mecanismo para os fãs mais fiéis dos próprios jogadores, e os tokens são mais mecanismos para criar fidelidade e experiências únicas”.

Mello, fundador do AlphaBetting, destaca que os NFTs ganharam força no mercado esportivo quando começaram a ser adotados nos Estados Unidos, pela liga de basquete do país, a NBA. Desde então, esses ativos tiveram forte expansão, e valorização.

“O token do Flamengo tem o melhor desempenho do mercado em 8 meses, foi de R$ 0,02 para R$ 2,50, mais de 300% de valorização. Isso porque ele está ligado à maior torcida do Brasil, e torcedores perceberam que comprar o token era uma forma de rentabilizar o amor pelo clube”, diz Mello.

Apesar dos fan tokens serem mais populares que os NFTs no momento, ele acredita que essa diferença está se reduzindo, e os tokens não-fungíveis devem crescer em popularidade em 2022 graças à Copa do Mundo, com uso pela Fifa e grandes times.

Nesse sentido, o fundo Alphabetting busca “tornar acessível às pessoas sem interesse em apostas mas que gostam de esportes para investir em esportes, clubes, NFTs. É um fundo passivo com compra de cotas e é composto por cesta de tokens de diversos times e as cotas são revertidas em um token, alpha, como prova de participação”.

Ainda fechado para a entrada de investidores, o fundo foi lançado há um ano, com um retorno acumulado em 10 meses de 30%. Atualmente, a empresa busca investimentos para permitir a abertura ao mercado e oferta por corretoras e outras gestoras.

Porta de entrada

Além do acesso ao mercado esportivo, Leandro de Mello acredita que os criptoativos ligados ao setor podem ter uma outra função importante: atrair pessoas para o segmento cripto que, normalmente, não teriam interesse em realizar esse tipo de investimento.

“Acho que atua como uma porta de entrada para as pessoas. As criptomoedas por si só causavam um certo desconforto, diferente dos tokens de times, que dão impressão ao investidor de que está se envolvendo com algo palpável, algo com nome, história. Alguns não têm essa sensação com as criptomoedas”, afirma.

Para ele, a compra de fan tokens e NFTs ajudam o investidor a “perder o medo” de investir em outros criptoativos.

Nesse sentido, ele aconselha que os interessados em entrar na área devem sempre buscar agentes confiáveis, como exchanges certificadas ou fundos, além de carteiras digitais.

João Zecchin, da Fuse Capital, acredita que muitas pessoas ainda enxergam o mercado de criptoativos como algo nebuloso e inseguro, o que gera medo e inibe investimentos. Hoje, porém, “as plataformas têm evoluído muito, com uma gama de corretoras super confiáveis internacionalmente e com nível de proteção muito maior”.

Ele vê a disseminação dos criptoativos esportivos como “super positiva”. “O futebol atrai mais usuários, pessoas que não seriam clientes tradicionais de cripto. É a pessoa que só quer torcer, acessar conteúdo exclusivo e vai ter exposição a outras produtos de cripto, é uma porta de entrada gigante”.

Zecchin ressalta que o Brasil tem as condições necessárias para ser um “grande mercado” de fan tokens e NFTs esportivos exatamente devido ao espaço que o futebol ocupa na sociedade e cultura, o que deve gerar uma “ampla gama de produtos”.

Para os interessados no segmento, o sócio da Fuse Capital lembra que o investidor de cripto “está mexendo com ativos financeiros, e por natureza são produtos de fronteira, novos. Estão em teste, desenvolvimento, então é importante que o usuário tenha cuidado com a quantidade de risco que quer tomar, porque é fácil de criar, tem quantidade grande e coisas boas e ruins”.


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